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A palavra NON

Categorias: Atualidade, opinião, filosofia ,cultura, em especial cinema, literatura e religião. Escrevo na blogosfera desde 2011, no dia de anos de Manoel de Oliveira. Em tudo o que escrevo ele está presente. Dai o titulo NON!

A palavra NON

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20.07.20

A Gulbenkian no passo da Humanidade


Fátima Prudêncio

Uma coisa vem sempre entrançada noutra. Quando se celebra a chegada do homem à lua ( a 20 de julho de 69, o que foi considerado por Neil Amstrong, ao "alunar", "um pequeno passo para o homem, mas um grande salto para a humanidade", a Fundação Calouste Gulbenkian atribui pela primeira vez o Prémio Gulbenkian para a Humanidade. A escolhida foi a ativista ambiental Greta Thunberg. E não foi em cima do joelho. A jovem sueca foi escolhida entre 136 nomeações (correspondendo a 79 organizações e 57 personalidades) provenientes de 46 países. Fui ao site da Fundação, de onde retirei a fotografia abaixo.

E isto deu-me que pensar.

 
Lembrei-me de duas coisas. Das tranças de Rapunzel e dos discursos que fazemos sobre a humanidade. E daqui para os Irmãos Karamazov tenho um link directo, gravado no mais profundo de mim. Onde leio a tese de Dostoievski sobre a felicidade.
A felicidade virá no futuro, cada uma das nossa vidas é uma pequena/grande contribuição ou passo para esse estádio futuro em que a paz será a rainha e a justiça será enfim não mais um sonho mas realidade. É então que o herói do romance pede que quando isso acontecer o acordem; seria injusto que ele não participasse dessa harmonia.
Desejo o mesmo para mim, para ti. E para ti Greta, que sejas feliz para sempre, como no conto que tem o nome das tuas duas belas tranças.
 
 
16.07.20

Um Corpo é que paga


Fátima Prudêncio

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«Ainda hoje estarás Comigo no Paraíso»

Não é sobre António Variações, embora esteja de acordo com a letra da música, que  canta quando a cabeça não tem juízo, o corpo é que paga. Alíás identifico-me  com quase todas as suas músicas. Mas hoje quero falar de outro corpo e de outra paga. Estive para dar outro título a este post: "as coisas estão a descambar", assim me saiu. Até fui ao Dicionário, vi o signifiado e a etimologia (Des+cambar  - nem sabia que havia o verbo "cambar") , mas optei pelo título acima, poque é disso que vou reflectir. 

A centralidade do corpo é de tal forma exaltada, que são muitos os que pensam que nada há mais no homem. É corpo, nascido e a ser enterrado um dia. És pó e ao pó voltarás, diz a Bíblia, referindo-se ao homem. Mas a bìblia diz também referindo-se a um homem singular (um homem que é tambám Pessoa Divina): Pelas suas chagas fomos curados . São estas o prefácio que Mel Gibson escolheu para o seu polémico filme "A Paixão de Cristo".

Vou aqui abordar a Teologia do Corpo, pedagogia criada pelo Papa S. João PauloI II, em mais de 100 Catequeses que deu às quartas-feiras, dedicadas ao tema do Corpo. Desde S.Tomás de Aquino (século XIII) que a Igreja não tinha avançado este respeito em termos filosóficos. Foi preciso um Papa filósofo (embora a Teologia do Corpo como o próprio nome indica não seja uma filosofia), para trazer o tema ao debate filosófico. E fê-lo com uma carta poderosíssima, a fenomenologia. Muito pouco divulgada entre nós, diga-se. CrIação do alemão Edmund Husserl, mais do que uma filosofia a fenomenologia é um movimento, que foi emergindo nos quatro cantos do mundo. Lembram-se de anteontem eu ter aqui falado de um livro determinante para a humanidade? Pois esse livro tem como título "Investgações lógicas"(1900). João Paulo II vem a conhecer Husserl pela mão de Max Scheller, que muitos baptizam como o pai da Antropologia Filosófica, ao escrever um livro acerca da lugar do homem no cosmos, homem esse que sabe tudo de tudo, mas de si muito pouco.

E, pergunto, para quê uma Teologia do Corpo? Até parece uma contradição nos termos. Então a Teologia não fala de Deus? Vem cá agora falar do homem! Pois aí é que entra o papa polaco. 

Há coisa mais tangível no homem do que o seu corpo? Teologia do corpo: é o Deus a falar através do corpo, ou seja, o corpo torna o invisível VISÍVEL.  O corpo é sacramento, sinal de Deus. Mas sinal não apenas que aponta mas que é o próprio Deus a manifestar-se (fenomeno+logos). E o que se manifesta afinal? Os relatos da criação falam-nos de um homem como "homem e mulher, os criou". A sexualidade não é algo de acidental, mas sim parte integrante do homem, que é relação, que assim nos fala de um Deus que é também relação ( Pai, Filho, Espírito Santo). A realização do homem está em doar-se. Por isso aquela alegria que sentimos quando nos damos incondicionalmemte! E há tantas formas de o fazermos... Este sim é o "fazer" do amor!

Impossível resumir 135 catequeses. Mas dá para ter uma ideia. Por isso é que família é uma das palavras mais fortes que conheço. O Pe Duarte da Cunha sintetiza aqui a teologia do corpo de uma forma brilhante.

Passo ao lado da História se não me interrogar se é verdade ou não que Deus se fez carne, corpo semelhante ao meu. Se o invisível se fez ou não visível nos teus e nos meus olhos, e nos gestos que agora em tempo de confinamentos lembramos sedentos. Ou se cruz é apenas um ornamento, ou não? Conta o Novo Testamento que Cristo, naquele corpo pagante, minutos antes de morrer disse a um dos que com ele foram crucificados "ainda hoje estarás comigo no paraíso"; e umas horas antes "Eu faço novas todas as coisas". Isto é matéria de estudo. Não é para mandar umas bocas.

Ninguém vai lá sem um trabalho sério sobre si mesmo. Ninguém vai sem ajuda. Por exemplo, hoje celebra-se a memória de Nossa Senhora do Carmo. Sei o que isso é? Não me interessa! E porquê?

Eu vou ler com mais foco estas catequeses. O que sou eu, para que Ele se tenha lembrado de mim?, diz um dos Salmos. (Sei  que é um Salmo?) Vou começar hoje à noite, numa iniciativa brilhante do CERTA. Via Zoom. Se quiser vir inscreva-se aqui 

E Mozart ! Um Corpo é que paga na Cruz, por mim, por ti. A Igreja, que é o Corpo do qual Ele é a cabeça, ainda está a pagar....

Felizes os convidados! Eu, à boleia, quero pagar.

 

15.07.20

Uma vacina chamada Oliveira


Fátima Prudêncio

Não gosta de Manoel de Oliveira? Acha que os filmes são lentos? Adormece na sala onde eles passam? Como eu o entendo! É verdade que há filmes longos, em que cada sílaba é dita va-ga-ro-sa-mente. Mas Oliveira teve tanto tempo de vida que realizou filmes muito diferentes uns dos outros. Há filmes de cerca de 70 minutos, há documentários, há o Aniki Bobo, que parece ter sido feito por outra pessoa. Hoje, quero sublinhar um ponto que me parece decisivo. Para mim foi e é. O tempo acaba por ir dando razão a coisas que nos pareciam sem sentido. Se há coisa que não podemos negar é que a Covid19 demonstrou que o tempo pode passar de forma diferente. E Oliveira é assim: o tempo passa de forma diferente. Os seus filmes, são uma espécie de vacina contra a correria em que vivemos.

Não a única vacina, mas uma muito poderosa. Para além do mais é de graça, pode ser tomada as vezes que quisermos. Tem a actualdade de poder ser vista na palma da mão, numa espécia de écran tatuado. Mas, importa lembrar, que no Cinema o tamanho conta. Por isso é bom ir ao Nimas hoje.

O Covid19 fez-nos constatar as manobras do tempo. Isto não quer dizer que aprendemos a lição. A correria voltou. É olhar...

Ver os filmes de oliveira a cru não é possível. Até porque adormecemos. Então? Ensinaram-me a ver. E nunca mais parei. A minha atividade blogueira começou há cerca de um década, e foi dedicada ao cineasta, que acabei por ter o privilégio de conhecer pessoalmente, estar na sua casa, no calor daquela sala, com sua cara metade. Disse-me ele, olhando-me os olhos: "é preciso ter esperança!"

O visionamento do filme é seguido de debate, co m a professora e investigadora Maria do Rosário Lupi Bello. Outra boa razão para aproveitar esta circunstância. Conhecer a História de Portugal, na qual os jesuítas deram muitas e decisivas cartadas é também um must!

14.07.20

Quero ser uma "influencer"


Fátima Prudêncio

 

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Esta coisa de ser inluencer é assunto atual mas vem de longe e eu sei. Vou dizer. Mas antes reconheço que é um fenómeno fenomenal porque traz à colação aquilo que sou. Este Blog é vestido de filosofia, e por isso é chato. Mas eu gosto. Não de ser chata, mas sim da Filosofia. Toda a gente mete a colherada no que pensa ser a Filosofia. Como dizia a minha queria avó, a Xica, "estão muito mal enganados!". E estão. Mas de onde vem isto hoje? É que tenho visto no instagram muitas. serão então mulheres, na sua maioria. Caras e corpos giraços, aparecem na palma da minha mão a cativar-me para destinos que dizem ser paradisíacos. Hotéis, uma miríade de coisas para usar, outras para ver, ou saber.

A ideia de influenciar será, pelo que vejo, paga à inluencer em géneros. É muito bom. Eu que adoro coisas, perco algum tempo a ver o instagram. Eu não sou uma influencer mas gostaria de ser. Mas não tenho hipóteses. Giraça? Já fui. Mas não sou um caso perdido. Antes pelo contrário. Tenho limões, faço limonadas. Sou do melhor! Smile!

Os livros, os filmes, os sítios, as coisas que gostas, e posso dizer que gosto de tudo, porque tudo me interessa. Quando encontro ou aprecio uma coisa que me atrai  -bela ou horrenda-  digo a quem está a meu lado: "olha!" A criança que faz o desenho e não decansa enquanto a mãe não o vê. Quer dizer que a minha humanidade não vive sozinha mas se entende como relação com as outras pessoas. Agora, no parágrafo que se segue, carrego na parte filosófica.

Aristóteles, Boécio, S.Tomás são os senhores que nos presentearam a definição de pessoa: a pessoa é um ser racional, ou, uma substância individual de natureza racional. A parte da relação é para eles acidental, "acontece"  na substância. Só no século XX, a relação é vista como fazendo parte essencial do homem. Foi Husserl e o movimento fenomenológico. Lévinas tem aqui a sua "cara", o "tu" que me descobre. São muitos e bem variados os espelhos que me vêem.

O personalismo aparece  nesta  História da Filosofia a centrar tudo na "pessoa" (personalismo), e a frisar este ponto. Sem me relacionar não descubro, nem me descubro a ninguém. Diz-me com quem andas e eu dir-te-ei quém és. Eu sou eu e a minha circunstância (Gasset).

Todos me infuenciam e eu influecio todos, naturalmente, faz parte da nossa natureza. Não se trata de uma obrigação moral, mas sim é um dado ontológico.  Deste não se foge. Aceite-se ou não.

O Apóstolo S.Paulo a certa altura das suas andanças afirma : "Ai de mim se não evangelizar!". Quer ele dizer que sem o anúncio do Ressuscitado, nem a si se conheçe. Não é um suspiro moral mas o reconhecimento do outro como "meu", carne da minha carne. Os outros não são números, robots, meios (esqueci-me de referir Kant, que oportunamente reconhece a pessoa como um fim e não como um meio, golpeando assim o utilitarismo de Stuart Mill). Influenciar é tão natural como a´água me mata a sede. Influenciem-me, por favor! Completem-me.

S. João Paulo II, que foi um fenomenólogo (a partir de Max Scheler), em inúmeros escritos acerca desta verdade acerca do homem : o homem só se reliza na doação de si mesmo. As suas, creio que 135 catequeses da teologia do corpo (publicadas entre nós na Aletheia), são disso  de leitura obrigatória. Eu vou lê-las a partir de amanhã, em grupo, via zoom, assim como o Pe Duarte levanta o véu.

 

 

 

13.07.20

Os gestos


Fátima Prudêncio

 

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Desvalorizamos  os gestos. O seu poder. A sua beleza. O mesmo é dizer que não sabemos valorizar o corpo. Bem, agora depois deste confinamento todo, talvez começe a despertar uma coisa boa. Sinto a falta deles. Aquele abraço. Aquele beijo. Aquela festinha. Aquele braço dado. Aquelas mãos juntas. E por aí. Mas vem também com este calor de morrer os maus tratos do excesso de sol. Estive com o Manel ao almoço. Parecia uma lagosta. Como gosto muito dele ralhei-lhe com a pior cara que tenho e disse-lhe como se tratar. 

A verdade é que o Ocidente praticou uma cultura de esquecimento da nossa parte carnal. O Oriente pensa ter os louros de valorizar o corpo, com os yogas e companhia, mas é mentira. O Oriente à sua maneira ainda é pior do que o Ocidente porque quer uma ascese que liberte o homem do corpo. Livra! Eu quero um corpo que esteja presente. Eu não tenho um corpo, eu sou um corpo, lembrou, e bem o filósofo Gabriel Marcel.

Qual é cor dos teus olhos? Não me lembro. Isto é um redondo chumbo. O livro que tenho lido e relido tem despertado o humano que há em mim. Eu não estou aqui para abraços e sorisos ocasionais. Nem para um sexo planeado, comercial e mediático, do "já está" bem clean, que se julga livre, moderno, reparador numa filosofia do relax. Uma filosofia da vida que é curta, e de que há que aproveitar ao máximo. É mentira. Porquê ? Porque os sabores amargos dizem tudo. A não ser que eu lhes ponha uma rolha, os cale, ou adormeça com outras rolhas. A mim já não me enganas tu. 

A vida não é curta. Curtas são as visões que alcançam apenas umbigos.  Curtas as visões que se encavalitam em desejos de uma noite num hotel de muitas estrelas, de um amor perfeito se de pequeno almoço na cama. Coitado do Instagram.

Voltarei aqui, ao corpo. Lembro-me de quatro pares de olhos, em especial. Uns são cor de azeitona preta, outros são castanho avelã, outros cor de amora, e outros lembro-me mas têm uma cor varíável. Voltarei ao corpo porque é assunto a ser esclarecido. Anda por aí tanta confusão...

 

12.07.20

Domingo é controverso?


Fátima Prudêncio

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Hoje é Domingo. Não é como canta a Carolina Deslandes: "eu sei lá...". Passado o nariz de cera o que quero hoje dizer é que o Domingo tem uma carga diferente dos outros dias. Tão grande que até Nietzsche se meteu com ele afirmando que o Dia do Senhor teria sido inventado para os fracos, os que não sabem lidar com a vertigem do nada, e teriam assim, no cumprimento do dever da missa, uma forma de se esquecerem de si, e do vazio da vida. E era a carneirada. Que a vida, é a tese do mestre da suspeita, é só para os fortes,  para os que estão para além do bem e do mal, e que com o sobre-humano da sua vontade aguentam e ultrapassam o vazio. Deus morreu. Viva o homem plus.  Viva uma sociedade de plenitude (viu-se! vê-se!) Há mil versões da filosofia deste alemão que morre em 1900, ano em que um espetacular livro de filosofia é publicado, cujo conteúdo está nos antípodas daquela genealogia da moral que passa ao lado da realidade, por atacar o cristianismo enquanto moral. Com efeito do Cristianismo como Religião Nietzsche nada pode, ou nada disse que a atacasse. Mas eu não ia hoje por aqui. Só quero lembrar-me do livro que tenho agora na cabeceira (mais um), "O Despertar do Humano", de Julián Carrón, do qual aqui falei há dias. Para dizer que gosto do domingo e porquê. E não sou a única, e sei sim, que hoje é domingo e  que isso me salva. Ao filósofo alemão contraponho o que defendeu S.Leão Magno.

O Domingo é marcante. Diferentes culturas, diferentes famílias, há milhares de anos que o tomam como bandeira ou bastão. Mas não precisamos de recuar. Basta olhar para hoje e vemos como o domigo vai desde o dia em que vou à praia, o dia da missa, o dia da família estar junta, ou o dia da visita ao lar, ou o dia do voluntariado, ou do desporto. Ou o dia de nada fazer e ganhar forças para a semana. E pode ser tudo isto ao mesmo tempo, ou o seu oposto, isto é, um dia de trabalho, ou um dia igual aos outros. Também poderia dizer que os outros dias podem ser domingos...

Eu gosto do Domingo porque é uma espécie de confinamento, ou paragem obrigatória, para corresponder ao que vejo que me torna mais humano. Não sacrifico nada, mas nada aos deuses, mas tomo o Pão que desceu do Céu. Não fui feita para menos, para deuses menores, mas para o Deus desconhecido que veio cá abaixo, deu e dá a vida por mim. Em cada Eucaristia. O livro de Carrón lembra que o impacto do covid faz despertar este alerta, este experimentar que não sou feita para menos, nem sou, por outro lado, o sobrehumano sem limites. Sou uma, entre tantos, que descobriu a sua humanidade n' Aquele que a ela dá resposta. Cristo na Cruz, Cristo Ressuscitado, Cristo na Eucaristia. Carne da minha carne, sangue do meu sangue, palavras grandes que me escapam mas que minha razão entende que escapam. Ao reconhecer o meu limite já estou para além dele.

Vou com S. Leão Magno que "explica" o que é a Eucaristia: ao receber a comunhão sou transformada naquilo que como, emJesus ( e não ao contrário, que é o que se passa no comer dos alimentos comuns, que o meu corpo assimila). A compreensão deste mistérios é tarefa de uma vida. Tarefa de domingos e de dias da semana. É uma aventura que dá gosto. Por isso gosto do domingo, e dos outros dias. Todos. Isto é controverso? É. Continuo ao escrever sobre o tal livro publicado em 1.900. Fica prometido.

 

 

11.07.20

Foi preciso um vírus para me lembrar de S.Bento?


Fátima Prudêncio

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Passou um ano que escrevi aqui sobre Bento de Núrsia. É assim, a correria é grande, e eu que tinha planeado escrever aqui, há já mais tempo, sobre o fenómeno do monaquismo, do recuar para avançar. Não nos mostrou o raio deste virus que era importante calar os barulhos,  para ter ouvidos para o que enche a nossa razão?

Quero registar alguns pontos que me têm acompanhado ao longo deste ano, pontos esses que assinalam a actualidade de S.Bento, e a fecundidade da sua opção. Para "start spreading the news", como canta Sinatra, é necessário  deixar-se "pôr" novo, a partir de dentro.

1. Constato que a Europa está doente, como estava no tempo de S.Bento. Vale a pena ver as razões que levaram Paulo VI a dar-lhe esse título de Principal Patrono da Europa, na Carta Apostólica Pacis Nuntius (1964).

2. Sugiro a leitura de "The Benedict option. A Strategy For Christians In A Post-Christian Nation," de Rod Dreher (PRENTICE HALL PRESS, 2018) e ainda uma visita (virtual) ao célebre mosteiro no Monte Cassino, bem como a leitura da Regra de S.Bento, que se difundiu amplamente.

3. Dirigo a mim própria um punhado de perguntas:  Quero ignorar 3.000 anos de Cristianismo? Quero achar que o mundo vai bem, que nada tenho a ver com o "tempo romano" e a queda de impérios? Conheço bem  o fundador da Ordem beneditina?

4. Ler S. Gregório Magno é um must. É a fonte mais importante da vida de Bento, no segundo livro dos seus Diálogos. Não é uma biografia no sentido clássico. De acordo com as ideias do seu tempo, ele quer ilustrar através do exemplo de um homem concreto - precisamente de São Bento - a ascensão às alturas da contemplação, que pode ser alcançada por aqueles que se abandonam a Deus. Então, ele dá-nos um modelo de vida humana como uma subida ao topo da montanha. Quer mostrar que Deus não é uma hipótese distante colocada na origem do mundo, mas está presente na vida do homem, de todo homem. Sem oração, não há experiência de Deus. Sem experiência de Deus, não se pode dizer uma palavra.

10.07.20

Não te leves tão a sério...


Fátima Prudêncio

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Nasceste sem ter feito nada para isso. Vais morrer um dia, sem que possas controlar as mais felizes ou infelizes nuances da 'final curtain'. Corona virus há muitos, sua palerma! Os teus filhos já têm pernas e asas, vão onde a liberdade deles os leva -  parecida com a que te leva a ti. A vida de um homem na terra é breve: 70, 80 anos...

Não precisas das urgências de estar a par de tudo. Melhor estares a par da vida. À altura do que te acontece, e do que "fazes" com isso. Deixa sossegada a lista de livros obrigatorios que te ordenaste a ler e sublinhar. Ou os filmes, ou os telefonemas, ou os quilos a mais. Tudo...

Não planeies tudo o que vais fazer nas férias. Já sei que planeaste não planear...

O que fizeres hoje fá-lo bem, por dentro, sem pressa. Os ócios e os negócios. Não ataques nem te ponhas na defensiva. Abre todas as janelas, deixa o vento entrar. Respira. Ainda te lembras da última vez que respiraste? 

Tens pouco. Mas pensa mesmo no que precisas para viver. O que é?

Fica apenas com a urgência do que não é urgente. Tem um nome: o importante. Não te preocupes a explicar esse importante. Se é mesmo importante, não o consegues explicar, agarrar, escapa-te como um punhado de areia por entre os dedos. Cada cabeça sua sentença. Sim. Há "importantes". Não é preciso disputar. Vive o teu "importante". Aprecia o dos outros e recolhe deles o que for bom para ti. E diz ao outro. A isso chama-se Amor. O Pe Duarte dizia ontem que o homem só se realiza na doação de si mesmo.

Gasta-te, mas sem "fazer" nada. Não olhe a tua esquerda para o que faz a tua direita.

O dia tem tem tantos segundos! Deixa-os bater no relógio novo da tua casa nova. 

Muitos te dizem : "eu cá vivo um dia de cada vez". Como haveria de ser? Quereriam que tu vivesses 4 ou 5 de cada vez? ou mil? Essa frase é uma grande e enganosa palissada. Antes, vive em pleno cada dia. Plenitude, que palavra. É como a palavra coração.  Trata-o. Ouve-o. Lava-o. Agora, a sério...

09.07.20

Bagão Félix: porque gosto muito de si...


Fátima Prudêncio

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Surpresa a minhã, o  novo livro de Bagão Félix: "Um dia haverá", já à venda na FNAC. O autor que excusa qualquer apresentação presenteia-nos com esta obra que é um ramalhete de artigos escritos nos últimos tempos, incluindo a era Covid. Dedica-o aos 4 netos e pede à filha que um dia possa contar o que o avô pensava da vida, do mundo, de tudo. Sim, este livro aborda inúmeras questões, que passam pela fé, pelo futebol, pela novas tecnologias. É um livro que não levo para férias porque vou acabar de lê-lo antes. Vale a pena. Não se deitam fora 72 anos de uma vida rica e  poderosa! 

O prefácio é elucidativo: interessou-lhe escrever as perguntas, mais do que as respostas e as certezas. Sempre o moveu a curiosidade, o espanto. Daí o seu interesse pela Botânica: quanto mais se avança mais se tem consciência da grande ignorância que nos habita e nos move a querer conhecer mais e mais. Neste ponto lembro-me da minha professora primária que nos orientava a procurar folhas, secá-las entre as páginas de um livro e esperar que secassem. Aprendiamos muitas coisas, desde os diferentes tipos de recortes, às nervuras. Está a faltar-me vocabulário, mas o mais importante é neste momento a presença desse mundo de verdes, castanhos, amarelos e laranjas a pintar as paredes e o chão desta minha nova sala. Uma chuva de estrelas.

Hoje as novas tecnologias põe-nos longe do cheiro e das mãos sujas de terra. Não que eu não  aproveite este admirável mundo novo. Mas, tal como este avô, não me interessa uma tecnologia que seja um fim em si mesma. Não quero ser escrava da tecnologia.

Como também não me interessa ir  atrás das urgências. O que na vida importa acaba por nunca ser urgente. Por isso Bagão Féliz critica os nossos telejornais, que são longos, não hierarquizam, que é para "vender" mais e melhor. É o alinhamento que está doente ...

O futebol não pode ser a pioridade. Hoje mesmo, na entrevista que deu à Rádio Renascença no Programa "As três da manhã", interrogado sobre uma eventual candidatura à presidência do Benfica, é peremptório : "Agora não." Se fosse noutros tempos...

O que lhe interessa agora é viver no paraíso da família, a mulher, filhos e netos. O que lhe interessa é continuar a espantar-se. Digo eu: continue a escrever , por favor. Ele há por aí cada "livro"! Também eu gosto de me espantar. E gosto muito de quem me ajuda a fazê-lo. Gosto de si.

Acordo com esta declaração de amor: do livro para mim e de mim para os largos horizontes que habitaram este homem que estima a liberdade de sonhar. E deixo uma pergunta deste autor(que é um capítulo do livro): o que é ser velho no meio da pandemia? 

08.07.20

Os católicos não têm mãos a medir!


Fátima Prudêncio

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Basílica do Carmo (Recife). A imagem de Nossa Senhora do Carmo, doada por Dona Maria I de Portugal foi confeccionada no século XVII com 2,2 metros de altura e 250 quilos, e possui coroa de três quilos de ouro

Daqui a 9 dias é dia de Nossa Senhora do Carmo, começando portanto hoje a Novena a Ela dedicada. O encontro com Jesus, o qual só é mesmo encontro se for feito hoje, e cada dia, ou seja no presente, contem em si janelas e portas e caminhos, um tecido de dobras a desdobrar. Numa palavra, o encontro hoje é um encontro com uma História cheia de pregas, que por sua vez está cheia de histórias. Mas pouco conhecida (s). Muito pouco conhecida (s), pela generalidade das pessoas, intelectuais incluídos. História tão pouco conhecida como pouco conhecido fica esse Jesus que insistimos em reduzir a um símbolo, uma inspiração, uma cruz mais ou menos fashion posta ao peito, um homem igual a outros tantos profetas ou sábios.

A atenção ao passado, diga-se, não significa a desvalorização do presente. Era como se um bébé nascesse dum sei que nada, e caminhasse para outro não sei que nada.  Para conhecermos o presente, é preciso olhar para trás e para a frente. E já agora para os lados.

Da História sei a Promessa que Jesus fez  aos seus 12 amigos que estupefactos ao olhar para CIMA já se começavam a sentir órfãos: Ficarei convosco até ao final dos tempos. E não vos deixarei órfãos, vou para o Pai, mas o Espírito Santo virá sobre vós e vos inspirará. E neste Deus que Se revelou aqui em BAIXO vão três: Pai, Filho e Espírito Santo. Não cabe na cabeça de ninguém.

Esta herança dá trabalho. Quem se encontra ou é encontrado por Jesus, hoje, tem muito que batalhar. E quem é mais culto, de mais cultura precisa. E precisa de uma grande dose de simplicidade.

Quando Jesus me olhou e olha através dos limites, meus e dos que comigo caminham, Ele pede tudo, um sim radical.

Quem vai ligar a Nossa Sra do Carmo? Pouco sei Dela  e dos Carmelitas. Sei vagamente de um escapulário que alguns usam como proteção. Mas no dia em que disse sim, ou seja cada dia, arregaçei, a-regaço as mangas,  aceitando a Aventura.

Hoje é o Carmelo. Sábado é S. Bento. Cada dia são homens e mulheres de todos os cantos do mundo, testemunhas do Evangelho, que  a Igreja recorda como fazendo parte do seu corpo, cuja cabeça é Cristo. São vidas, que fazem parte da Vida.   

E neste ponto a Igreja não podia ser mais pedagógica. Vai ensinando de uma forma discreta mas esplendorosa como tudo foi acontecendo. Eu aceitei e aceito a aventura de viver destas águas revoltas por ondas que desconheço. 

Como? Voltando ao Carmelo, comecei hoje a Novena, leio o que S. João Paulo II diz do Escapulário: "O Escapulário é essencialmente um ‘hábito'. Quem o recebe é agregado ou associado num grau mais ou menos íntimo à Ordem do Carmo,  dedicada ao serviço da Virgem para o bem de toda a Igreja. " Re-cordo a Verónica, agora carmelita em Fátima, com o seu novo nome Irmã Verónica da Cruz, companheira de longa data.

E vou participar no Congresso Internacional sobre a filósofa judia Edith Stein, no próximo dia 12 de Dezembro. Espero receber lá o Escapulário. Foi há alguns aninhos, em Itália, que esta discípula de Husserl, vítima do Holocausto, doutora da igreja e co-padroeira da Europa, me atraiu. Eu que sou de Filosofia, em especial na área da Fenomenologia, de que Husserl é fundador, não podia estar melhor. 

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