Acabaram-se as arrumações!
Mudar de casa, sem ajuda para por as coisas em ordem, pode ser uma canseira, e ser uma tarefa quase interminável. Só de pensar em mudar, dá logo canseira. Mudei porque não estava bem na antiga casa. E porque esta nova casa quase me caiu ao colo. Mas realmente nada acontece "porque sim". As coisas acontecem e eu digo sim ou não, ou nim. Neste caso foi um feliz sim, e estou radiante. Às vezes temos que arriscar. E curioso é que estando finalmente bem, nada, mas nada, me faz estar apegada ou presa à casa e às coisas que nela habitam.
Sempre vivi em casas que não eram minhas. Luanda, Washington, Moscovo, e no espaço e tempo de cerca de trinta anos. E sempre disse para mim própria: esta vida diplomática é muito pedagógica. Porquê? Porque experimento que todas estas casas são moradas provisórias. E aprendi mesmo a lição. A ponto de dizer que habito mais uma morada provisória. E verdade que não temos aqui "morada permanente" - oiço no Hino de Completas. Contudo, e paradoxalmente, cada vez sou mais "uma" com este lugar que visto a meu gosto.
Não sei viver na bagunça e não preciso de muito. O menos é mais. Dou coisas que gosto, vendo outras e sei que se as coisas estão no seu lugar, eu vou mais facilmente ao meu lugar. Graças a Deus.
Agora, é preciso dizer que já vi muito boa gente que vive a vida em arrumações. Eu não quero isso para mim. Sei que podia melhorar aqui ou ali. Mas ir po aí é correr o risco de não viver, não gozar. Nada, mesmo nada. As casas são lugares de descanso, mas principalmente trampolins para os felizes passos que me desafiam. Em plenitude e paz, no convívio com esta família cuja História não se limita a expor as suas lombadas nas minhas novas estantes. Uma História que herdei e faço minha num colo que não tem braços suficientes para a agarrar. Por isso peço sempre ajuda.